sexta-feira, 22 de maio de 2009

Noite de Estrelas

Queria a coragem de uma heroína
A disciplina de um monge
A sabedoria de um filósofo
A tolerância de uma mãe
Queria ter-te comigo agora tão arisco sentimento
Que me foge ao alcance
Os ruídos do mundo me ensurdecem
A quietude do mar me enlouquece
Quero silêncio e gritaria
Na mais harmoniosa junção de opostos
Pois de opostos é feito o equilíbrio
Aquieta-te mente inscessante
Acalma-te coração relutante e hesitante
Que hoje, a noite é de estrelas
E amanhã o sol morno não mais te queimará
Mas te nutrirá de força plausível

domingo, 17 de maio de 2009

O melhor de ontem

Casa. Tarde. Chuva.
O que mais poderia eu almejar?
Talvez teus olhos, agora tão distantes...

O piano. As mãos ao piano. O som.
Qual a música que toca em meus pensamentos?
Talvez a música da vida, agora tão clara...

Amanheceu a noite de sol.
Todos os pássaros voaram, radiantes.
As flores, mesmo caídas, ainda são belas
E que cores! Que cores guardam
Os caminhos da experiência.

O violão canta, mesmo pendurado à parede.
A música de ontem fala de hoje.
A fala de hoje é a música de amanhã.
Enfim, anoiteceu a manhã de luar.

Ver, é preciso ver.

É incrivelmente mágico ativar os sentidos quando se caminha pela rua. Sentir o cheiro das árvores e das flores, sentir o cheiro do vento, o cheiro da comida dos bares e restaurantes, o perfume das lojas, o cheiro de remédio das farmácias. Ver, é preciso ver. Como cada árvore forma um belo desenho, como elas são peculiares e diferentes umas das outras. Seus compridos galhos se juntam e fecham o céu com suas belas folhas. As flores com cores tão vivas que é possível pensar que elas foram pintadas com uma tinta mágica e magnífica. O céu estrelado, com nuvens sombrias da noite, declarando e estampando a imensidão do universo. Como a cidade é bonita e atraente à noite. As lâmpadas com sua luz sóbria e etérea, as casas e prédios antigos com seu charme europeu, os prédios novos com suas luzes e designes chamativos. O que estraga a rua, talvez, são as pessoas.

Sim, as pessoas com sua intensa cegueira. Não enxergam a beleza que as rodeia, não olham para os lados, andam maquinalmente compenetradas em suas obrigações, seus compromissos, seus problemas. Ou andam apenas, na sua grandiosa e implacável apatia e função de ser, de sobreviver. Nunca uma frase fez tanto sentido para mim como a frase do heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro: "pensar é estar doente dos olhos". É exatamente esse o mal da humanidade. Enquanto se perde tempo pensando, pensando mecanicamente, em tolices e devaneios, se perde tanto em beleza, em conhecimento visual que desponta em conhecimento fundamental. Quando se observa uma árvore (não me canso em citá-las), se aprende o sentido puro e essencial da vida. Elas estão ali, sempre no mesmo lugar, aparentemente imóveis, mas a cada dia mudam, envelhecem, ficam majestosamente maduras e sábias e, o mais importante, não perdem sua beleza.

De fato

Desde que a vida se mostrou de fato vida
Nenhuma idéia pôde permanecer intacta
Tudo se renovou e esclareceu de forma assustadora
Percebeu-se a ambiguidade em ser um ponto no meio de outros milhares
E, ao mesmo tempo, um indivíduo único e fascinante

Desde que o amor se mostrou de fato amor
Nunca mais se pôde envolver facilmente
Fácil é pintar o amor, difícil é sabê-lo
Percebeu-se o quão estúpido é banalizar e simplificar o sentir
Algo demasiado forte e puro

Desde que a dor se mostrou de fato dor
Nunca mais se pôde sofrer em vão
Não há tempo para se disperdiçar com lamentações
Percebeu-se que a importância e veneração que se dá ao sofrer
É muito maior do que a dor em si